Enguiço
- Ana Paula Maciel Vilela
- Mar 18
- 2 min read

Um estouro seguido de um sacolejar e o motor do ônibus parou.
Cerca de doze pessoas ruidosas e estridentes silenciaram interrompendo o assunto da hora e, com olhares curiosos, se interrogavam fitando o banco do motorista.
–Permaneçam em seus lugares. Não deve ser nada sério – com o cenho franzido e fisionomia contrária à sua fala desceu do ônibus para diagnosticar o ocorrido.
Ricardo e Alexandre ocupavam os últimos assentos, se olharam e riram enquanto uma barra de chocolates era retirada da meia de um e um saco de balas Soft de dentro das calças do outro.
Lojas Americanas lotada naquela época do ano era a melhor oportunidade para passear pelos corredores das guloseimas. Pura travessura, a adrenalina nas alturas enquanto escondiam nas roupas os objetos do desejo. Tinham dinheiro para comprar caso fossem apanhados, mas que graça teria?
Foram interrompidos pelo motorista arfando enquanto subia as escadas do ônibus:
–Pessoal, sinto muito, mas o problema é sério. Já que não tem nenhum orelhão por perto, vou até a casa da esquina usar o telefone para pedir o socorro. Alguém que está perto do destino final prefere descer e terminar caminhando? Sugiro que os demais permaneçam aqui.
Um casal mais velho preferiu descer, os demais não estavam preocupados com a hora.
Logo as conversas foram retomadas e as balas e chocolates consumidos pelos primos.
Passado um bom tempo, nem sinal do motorista. Lembraram que já deveriam estar de banho tomado na casa dos tios, afinal era véspera de Natal. Os pais já deviam estar bravos com o atraso dos dois.
Começaram a chamar, bater na lataria do ônibus e virou uma algazarra, todos aderiram ao clamor. A porta da casa verde da esquina se abriu e viram o motorista sorridente com um copo na mão e atrás dele algumas pessoas se dirigiam ao ônibus. Foram servidos Guaraná Paulista e salgadinhos diversos. Todos muito sorridentes desejando feliz natal. Virou uma festa e parecia que todos se conheciam há tempos.
Um clarão iluminou a esquina, um gritou que era Papai Noel chegando e logo o outro ônibus estacionou.
Ainda hoje se lembram dessa história, uma das muitas vividas pelos dois. Uma véspera de Natal atípica, com certeza.
Crônica publicada no e book "Natal" - Antologia de Contos de Natal - Dezembro 2024
Clube de Leitura da Casa Amarela coordenado por Roseana Murray
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